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Uma ética cristã para hoje

Um estudo em Mateus 5.1-3, preparado originalmente para a revista “Você”, da UFMBB

Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho

A Ética é um dos ramos da Filosofia. Trata da conduta ideal do indivíduo. Tem muito a ver conosco, cristãos, porque um dos pontos mais fortes da vida cristã é a conduta diante do mundo. Ou seja, como devemos proceder no mundo. Há até um ramo da Ética chamado de Ética Cristã.

Refletir sobre ética, a conduta ideal do cristão no mundo, é bastante oportuno. Afinal, seguir a Cristo não é viver na igreja cantando, mas é viver no mundo. Jesus orou pelos seus seguidores nestes termos: “Não peço que os tires do mundo, mas que o guardes do Maligno” (Jo 17.15). Vivemos no mundo, não dentro da igreja. Então, como vier corretamente?

Nosso ponto de partida será o chamado “Sermão do Monte” de Jesus, contido em Mateus, capítulos 5 a 7. É o mais famoso discurso religioso de todos os tempos. Trata-se de um primor literário e também de conteúdo. Se todas as pessoas, inclusive nós, cristãos, o praticassem, o mundo seria um paraíso. Ele é considerado como “a constituição do reino de Deus”. Jesus veio pregando o reino de Deus, logo após a tentação no deserto (Mt 4.1-10), começou a pregar e a pregar o reino de Deus. O sermão do monte estabelece as regras de conduta do cidadão do reino.

COMO JESUS SE APRESENTOU PARA O SERMÃO

Antes de analisar o sermão, analisemos como Jesus se apresentou para pregar o sermão. Primeiro, ele se sentou (v. 2). Por quê? Porque esta era a postura do mestre diante dos discípulos. O mestre ensinava sentado. Lemos em Mateus 23.2: “Na cadeira de Moisés se assentam os escribas e fariseus”. Daqui vem a palavra “catedrático”, o mestre que tem uma cadeira. Jesus se apresenta como um mestre. Não é um discurso formal, mas de um mestre.

O texto grego diz que ele “abriu a boca” (Mt 5.2) para ensinar. Parece óbvio. Ninguém pode ensinar de boca fechada. A expressão é um aramaísmo, ou seja, uma forma de se expressar entre os judeus que falavam aramaico. Dá a idéia de algo solene, bem pensado, bem organizado. Então já entendemos que o sermão do monte foi algo bem elaborado e organizado e apresentado por Jesus na condição de mestre. Foi assim que ele se apresentou.

Aqui já aprendemos uma verdade muito importante. Quando Jesus transmitiu a ética do seu reino, não o fez descuidadamente, mas apresentou-se com um mestre que ia apresentar uma verdade solene, bem meditada. Não tirou, como se diz, “da cartola”, mas expôs verdades profundas, bem pensadas, e em linguagem bem simples.

A BASE DA ÉTICA

A base da ética cristã é o ensino de Jesus. Isto já podemos verificar. É o mestre que apresenta seus ensinos de maneira bem ordenada. A igreja deve apresentar para os seus membros uma ética baseada nos ensinos de Jesus.

Qual foi a primeira frase de Jesus neste sermão ético? Alguma proibição? Alguma recomendação de conduta? Não, uma afirmação. Que não tem a ver com conduta, mas com o reconhecimento de uma situação.

“Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus” (Mt 5.3). Uma tradução que me parece ser a mais acertada seria “pobres no espírito”. Que estranho! Esta declaração inicia uma série de dez, que começam, todas, com “bem-aventurados” (a pessoa realizada). A ética de Jesus, a conduta ideal que ele espera de seus seguidores, não é para privá-los de coisas boas ou torná-las pessoas frustradas. É para sejam pessoas realizadas. A pessoa verdadeiramente realizada não é aquela que faz o que deseja, mas a que faz o que se espera dela. Há muitas pessoas que buscam a realização na busca do prazer, do que as agrada, e depois de muito tempo se sentem frustradas. Talvez devessem pensar mais em deveres. Principalmente se for um seguidor de Jesus. Aí, sim, sua preocupação maior deve ser como agradar a Deus, como proceder de maneira que Deus espera dela. Esta é a base da ética cristã: quem segue e Jesus quer agradar a Deus.

MAS, POR QUE ESTE COMEÇO?

Mas voltemos a “pobres de espírito” ou “pobres no espírito”. Muita gente pensa que “pobre de espírito” é uma pessoa medíocre. “Ah, Fulano é um pobre de espírito!”, dizem, desprezando alguém que é simplório. A Linguagem de Hoje traduziu por “sabem que são espiritualmente pobres”. Outra tradução diz “humildes de espírito”. Dá para entender por que Jesus começou por aqui? Porque o termo se refere a pessoas que sabem que não são completas, que não estão orgulhosas de si, do que são, mas se vêem como espiritualmente pobres, espiritualmente carentes.

Gente que se julga completa ou perfeita dificilmente aprenderá alguma coisa. E se a ética é a ciência que trata da conduta da pessoa, as pessoas que querem melhorar sua conduta aprenderão mais. E se aperfeiçoarão. Jesus sabia o que dizia. Suas palavras são sempre cheias de sentido, sem merecer qualquer reparo. Ele nos ensina que só uma pessoa que se acha imperfeita e quer melhorar pode se realizar. Ele não diz os “ricos de espírito”, ou seja, os cheios de boas obras, de caráter excelente, de reputação acima de qualquer crítica. Nenhuma pessoa atingiu a perfeição moral. Ninguém tem uma conduta que não possa melhorar. E se a pessoa se julga espiritual e moralmente rica, está no caminho errado. O caminho correto é da busca constante de melhorar o nosso jeito de ser.

POR ISSO, SEMPRE MELHORANDO

Uma música de um roqueiro brasileiro, Raul Seixas, dizia: “Eu prefiro ser uma metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo, tudo”. Nós, cristãos, temos opiniões formadas. Não somos “Maria-vai-com-as-outras”. Temos convicção de nossa fé, e assim temos convicção de nossas responsabilidades, bem como dos direitos que Jesus nos outorgou na cruz (salvação, perdão dos pecados, vida eterna com ele, etc). Mas somos uma metamorfose ambulante. Estamos sempre procurando crescer e ser melhores. É conselho bíblico: “Crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2Pe 3.18). Cada dia, um cristão quer ser uma pessoa melhor. E isso se inicia com o conhecimento maior de Jesus.

FINALIZANDO

Vamos ver se resumimos tudo o que foi dito:

  1. A Ética trata da conduta ideal da pessoa.

  2. Existe uma Ética Cristã, a conduta ideal do cristão.

  3. Ela se baseia nos ensinos de Jesus, o Mestre do reino, que ensinou com autoridade de um catedrático.

  4. Ela começa com o reconhecimento de que somos pobres e precisamos nos enriquecer. Este é um conselho bíblico: “que se enriqueçam de boas obras” (1Tm 6.18).

Assim podemos chegar ao final com esta afirmação: uma boa conduta cristã começa com o reconhecimento de que não a temos, e com uma atitude de busca. Quem procura sem uma pessoa de conduta correta, principalmente uma conduta cristã correta, será uma pessoa realizada. E este é um desafio para você: reconhecer que precisa melhorar, por melhor que seja, para crescer espiritual e moralmente, enriquecendo-se de boas obras. Então, você será uma pessoa realizada. “Quem faz o bem é de Deus” (3Jo 11).

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