Isaltino Gomes Coelho Filho
“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi claramente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade” – Mateus 7.21-23.
Publicado originalmente pela revista “Você”. Publicado no site por deferência da revista.
Quando conversamos com as pessoas sobre salvação ou a vida eterna no céu, as opiniões variam, mas seguem numa mesma direção: “Aquele que faz o bem!”, ou “Quem ama o próximo!”, ou, ainda, “Quem tem uma religião!”. Em linhas gerais, é o equivalente a “todo mundo que não é mau!”. Estas respostas podem ser sinceras, mas ignoram o que Jesus disse sobre o assunto.
Os evangélicos deveriam ter mais luzes sobre esta questão, mas também dão respostas estranhas: “Quem foi batizado!”, “Quem é evangélico!”, ou, “Quem é da minha igreja!”. Isso porque muita gente assume suas posições e depois busca apoio para elas. Não é incomum ouvimos pessoas dizerem, em nosso meio: “Eu penso assim, ó…” ou “Eu acho assim, ó…” e, depois, dão sua opinião. Pastor há muitos anos, professor em seminários, palestrante em muitos lugares, este autor ouviu muito estas frases. Não está imaginando, mas relatando situações que viveu.
A expressão correta seria “A Bíblia diz assim…”, ou “Jesus disse assim…”. O que pensamos e achamos, em termos espirituais, se estiver em desacordo com a Bíblia, é irrelevante. E está errado. Paulo nos exortou a levarmos “cativo todo pensamento à obediência a Cristo” (2Co 10.5). Nosso pensar deve se curvar ao dizer de Jesus. Por isso, perguntemo-nos: o que Jesus disse sobre a entrada no reino dos céus, na vida eterna? Como é que se entra no reino?
Já sabemos que o sermão do monte é a constituição do reino de Deus (ou dos céus). No texto que analisamos, Jesus diz de forma bem clara, quem entrará no reino. Vejamos o que ele disse.
Ele começa negativamente, no seu estilo de primeiro refutar o erro para depois afirmar o certo. E nega toda religiosidade externa, toda aparência de piedade e até mesmo, como diríamos hoje, de poder espiritual: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus”. Há gente que não consegue formar uma sentença gramatical sem dizer: “o Senhor isso” ou “o Senhor aquilo”. Usam o nome de Deus a torto e a direito. Segundo Jesus nem mesmo invocar o nome do Senhor significa que a pessoa está salva. E diz ele ainda que “Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi claramente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade”.
Esta afirmação de Jesus é muito forte. Deveria receber mais atenção de nossa parte. Valorizamos tanto as pessoas que alegam profetizar, expulsar demônios e fazer milagres! Achamos que tais práticas manifestam poder espiritual. Mas segundo Jesus, elas nem mesmo significam que a pessoa está salva. Não quero dizer que quem pratica essas coisas está perdido. E sim que praticar essas coisas sequer prova a salvação. Jesus sempre foi contra o espetáculo religioso, o show da fé. Quando Satanás o tentou a exibir seu poder, ele se recusou. Escolheu obedecer a Deus, sempre citando as Escrituras.
E aqui achamos o caminho. Ele sempre afirmava as Escrituras. Nesta declaração, depois de negar que sinais sejam sinal de salvação, ele afirma que entrará no reino quem não pratica a iniquidade. A palavra que Mateus usou aqui tem a idéia de “transgressão da Palavra”. Para Jesus, o mais importante é obedecer à Palavra. Mas hoje se usa “Palavra” para qualquer discurso. Certos pregadores até chamam sua prédica de “a Palavra”. Mas fica bem claro no sermão do monte que, para Jesus, é o seu ensino. Veja que ele opôs seu ensino ao de Moisés (veja 5.21-22, 27-28, 31-32, 33-34, 39-39) e veja que ele termina o sermão afirmando que o padrão são as suas palavras (7.24-27). Podemos entender que obedecer as palavras de Jesus vale mais que alegar poder espiritual exercido em nome dele. Quem despreza a palavra de Jesus não entra no reino. Sinais, o maligno pode fazer. Obedecer aos ensinos de Jesus, só os salvos.
Uma vez os judeus perguntaram a Jesus como fariam para executar as obras de Deus (Jo 6.28). A pergunta veio no plural: “obras”. Jesus respondeu com o singular: “A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que ele enviou” (Jo 6.29). A maior obra que alguém pode fazer é crer em Jesus. É o que de mais importante há na vida. Porque desta decisão depende toda a eternidade da pessoa.
A prova será “naquele dia”. A expressão se refere ao “dia do Senhor”, que para os judeus seria um momento de intervenção divina. Usava-se também para designar o dia do juízo, e é assim que Jesus emprega. Haverá um dia de juízo, segundo Jesus, e o padrão para as pessoas serem julgadas não será sua religiosidade, mesmo que espetacular. Será a prática do ensino de Jesus. Em outro discurso dele, chamado de “sermão profético”, o padrão é a prática da bondade (Mt 25.31-46). O sermão do monte é o primeiro sermão de Jesus. O profético é o último. São os dois extremos do ensino do Salvador. Eles não se contradizem, mas se completam. O seguidor de Jesus, a pessoa que acata seu ensino, pratica o bem. Como é importante guardar isso! As obras não salvam, mas mostram que a pessoa está salva, porque “pelos seus frutos os conhecereis” (Mt 7.16). Jesus nos mostra duas linhas que servem de guia para quem deseja ser cidadão do reino: não transgredir sua palavra, acatando-a, e exercitar a bondade no trato com os carentes.
Não se engane! Não são os dons que alguém alegue ter, nem mesmo um culto barulhento. Precisamos distinguir as coisas de que gostamos e que julgamos importantes, que nos fazem bem, e aquilo que Jesus ensinou claramente em seus sermões e parábolas. Entrará no reino aquele que acatar o ensino de Jesus e mostrar isso na sua vida. Este é o cidadão do reino os céus.
�=s�6� p� tyle=’text-align:justify’> O que Jesus diz aqui é algo que muitos cristãos piedosos descobriram e viveram. Nossa paixão maior dominará nossa vida. Nossas emoções, nossos anseios e nossos atos serão direcionados no rumo dessa paixão. Lembremos de Paulo: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé no filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim” (Gl 2.20) e “Mas em nada tenho a minha vida como preciosa para mim, contando que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus” (At 20.24). Entendeu a questão? Não é o quanto temos ou o que temos, mas qual é a nossa maior paixão. Uma banda de rock? Artistas de televisão? Dinheiro? Todas essas coisas podem trazer boa dose de prazer, mas nunca podem dar o sentido da vida para a pessoa. Só Deus pode. E aqueles que têm uma vida consagrada a Deus e dedicada a seu serviço descobrem uma segurança e uma paz interior que nada pode dar.
MAS, COMO VIVER SEM PREOCUPAÇÃO COM DINHEIRO?
Todos nós necessitamos de dinheiro. E, sendo honestos, é melhor ter dinheiro do que não ter. Mas ter riquezas é diferente de ser dominado por elas. E necessitar de dinheiro é diferente de viver em ansiedade por causa dele.
Lembra de Salomão? Deus lhe disse para pedir o que quisesse. O que você pediria? Muito dinheiro? Salomão pediu sabedoria para governar bem o povo e desempenhar bem a missão que Deus tinha para ele. Deus não apenas lhe concedeu sabedoria, mas disse-lhe outra coisa: “Também te dou o que não pediste, assim riquezas como glória; de modo que não haverá teu igual entre os reis, por todos os teus dias” (1Rs 3.13). Notou o que aconteceu? Porque ele colocou ser útil a Deus e cumprir sua missão, a missão que Deus lhe designara, de ser rei, recebeu também riquezas, que não havia pedido.
Jesus disse isso de maneira admirável: “Mas buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6.33). Ele nos ensinou que quando colocamos o reino de Deus em primeiro lugar em nossa vida, e não os bens, as demais coisas nos são acrescentadas. Não é preciso viver ansiosos. É apenas necessário viver dentro da vontade de Deus e não ser dominado por Mamom. Lutero disse que “aquilo que domina a vida de uma vida isso é seu deus”. Que nosso Deus seja Deus e não um deus tipo Mamom ou roupas de grife.
CONCLUSÃO
Qual é a postura correta com as riquezas? Como devemos nos relacionar com os bens materiais?
Agur nos ensina uma boa oração, no livro de Provérbios: “Duas coisas te peço; não mas negues, antes que morra: Alonga de mim a falsidade e a mentira; não me dês nem a pobreza nem a riqueza: dá-me só o pão que me é necessário; para que eu de farto não te negue, e diga: Quem é o Senhor? ou, empobrecendo, não venha a furtar, e profane o nome de Deus” (Pv 30.7-9). É a medida justa que ele pede. Nem de mais nem de menos.
Se, eventualmente, você tiver de menos, lembre sempre de Mateus 6.33. Ponha o reino de Deus em primeiro lugar, e Deus cuidará de você. Se tiver sobrando, lembre-se do exemplo de Barnabé. Não seja dominado pelos bens. E se você subir na vida, e enriquecer, ganhar muito dinheiro de forma honesta, nunca deixe Deus no degrau de baixo, em sua subida. Suba sempre com ele e invista no reino. Contribua para a obra, sustente missionários, ajude pobres, órfãos e viúvas. Não viva para si mesmo. Quem vive para si, além de ser uma pessoa medíocre, perde o sentido da vida. “Quem ama o dinheiro não se fartará de dinheiro; nem o que ama a riqueza se fartará do ganho; também isso é vaidade” (Ec 5.10). E lembre também de 1João 2.17: “Ora, o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus, permanece para sempre”.