Isaltino Gomes Coelho Filho
No livro Não verás país nenhum, Inácio de Loyola Brandão, um dos grandes cronistas e contistas brasileiros, imagina a cidade de São Paulo após uma guerra nuclear mundial. A maior e mais rica cidade do hemisfério sul está em péssima situação, absolutamente destroçada. Não há mais energia nem alimentos. Acabou-se, por completo, a vida vegetal. Não há mais chuvas. A vida, enfim, é terrível. Mas a última coisa que as pessoas deixaram foi seus carros. Quando não puderam mais se locomover neles, por falta de combustível ou por cessação da energia motor, e tiveram que ficar parados, recusaram-se a deixá-los. Loyola mostrou, assim, como as pessoas se apegam às máquinas e bens materiais como valor último da vida. Elas não têm coisas. As coisas as têm.
Ele segue na mesma linha do americano Pat Frank, em Ai, Babylon, que imagina a Flórida destruída por um ataque nuclear. Não há mais eletricidade nem combustível. A vida volta às suas condições elementares. As pessoas trocam carros de luxo, que agora são absolutamente inúteis, por galinhas, e lanchas a motor por um punhado de sal.
Isto levanta uma questão: O que é, realmente, essencial à vida? Lutamos e nos esforçamos por supérfluos sem os quais nossos antepassados sempre viveram. E razoavelmente bem. Aonde se vai hoje, por exemplo, encontramos pessoas falando ao celular. Ele é tão essencial assim? É muito útil. Foi assim que, num acidente na estrada, numa ocasião, pude algumas pessoas para tomarem providências com meus familiares. Mas já vi gente, em supermercado, telefonando para saber qual a marca de extrato de tomate deveria levar! Como essas pessoas viviam antes? Essas coisas que nos encantam e enchem os olhos e nos fazem pessoas realizadas e com status são, realmente, essenciais?
O psicanalista Erich Fromm declarou que a vida moderna transformou as pessoas em sombras ansiosas e desprovidas de amor. Diz ele: “A maioria dos norte-americanos acredita que estejamos numa sociedade de consumo (…) de gente feliz, que gosta de se divertir, que viaja em aviões à jato, e cria o máximo de felicidade para todos”. Mas diz ele que, ao contrário, este estilo de vida conduz à ansiedade, à vulnerabilidade, e em prazo maior, à desintegração da nossa cultura, o que é desastroso para a maioria das pessoas.
Centramos nossa vida na posse de coisas. Mas Jesus disse que “a vida do homem não consiste na abundância das coisas que possui” (Lc 12.15). Há valores maiores: dignidade, integridade pessoal, credibilidade, paz interior, paz em casa, paz com Deus, a vida em ordem. Provérbios 15.16-17 retrata bem isso: “Melhor é ter pouco com o temor do SENHOR do que um grande tesouro acompanhado de inquietação. Melhor é um prato de hortaliça, onde há amor, do que o boi gordo acompanhado de ódio”. Baseado neste texto, seguindo a Linguagem de Hoje, preguei, meses atrás, sobre “Quando rúcula é melhor que picanha”. O simples com Deus e com paz é melhor que o mais nobre sem Deus e sem paz. Buscamos tanto coisas e nos esquecemos de que elas não têm o poder de encher nossa vida de sentido. Mas um bom relacionamento com Deus e uma boa vida doméstica vale mais. Não há dinheiro que pague ter boa comunhão com Deus e um lar amoroso.
Sim, nada é mais valioso que a paz com Deus, a certeza de se estar acertado com ele, provar seus cuidados e ter a certeza da vida eterna. Paulo perdeu tudo o que tinha por amor a Cristo. Até a vida. Mas declarou, com júbilo: “Eu sei em que tenho crido, e estou bem certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele dia” (2Tm 1.12). Sua vida, mesmo com todas as dificuldades que enfrentou, foi uma vida jubilosa, cheia de sentido, e que marcou o mundo para sempre. Por um motivo muito simples: era uma vida comprometida com Jesus Cristo.
Sua vida está legal? Você vive bem, tranquilo, realizado, seguro e confiante no futuro? Lembre-se que confiar em coisas é confiar no nada. Não confie em coisas, em si próprio, muito menos em conceitos humanos. Ponha sua confiança em Jesus Cristo. Você descobrirá o que muitos outros descobriram: que a vida com Cristo passa a ter outro sentido. Um sentido muito mais rico. Creia nele. Vale a pena.