Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho
Pastoral do boletim da Igreja Batista Central de Macapá, 30.6.13
Desde minha consagração ao ministério pastoral até hoje houve mudanças significativas no cenário evangélico. Algumas boas, outras nem tanto. Uma das mudanças mais expressivas foi o conceito do que seja um pastor. Antes era um homem que estudava e ensinava a Bíblia ao povo e lhe dava assistência espiritual. Hoje, algumas igrejas querem animadores de auditório. Se o pastor não é, arranjam um para dirigir o culto para ele. O negócio é agito e não reflexão. As pessoas não vão à igreja para conhecer mais sobre Deus. Vão para externar emoções. A comunicação hoje não é mais cognitiva (ideias), mas gestual (com o corpo). Não se reflete. Sacode-se.
Nesta mudança, os pastores devem sempre elogiar. Seu ensino deve ser sempre positivo. Não devem falar de pecado e de erro. A pregação é para as pessoas se sentirem bem. Eles devem fidelizar os clientes, não admoestá-los. No livro Contextualizando a igreja de Cristo, Luiz Sayão diz: “A tendência atual é aceitar o evangelho de modo superficial, como mais uma ajuda espiritual. Nunca houve tantas ´˜conversões´ evangélicas; mas nunca foram tão superficiais. Hoje, mais do que nunca é preciso deixar claro que ´˜ser cristão´ significa mudança de vida definida” (p. 61).
A igreja deixou de ser casa de Deus e se tornou casa dos homens. Não se busca a voz de Deus, mas um eco da voz humana confirmando que as pessoas estão certas e são boas, dando-lhes apoio para viver. Nada de transcendente, de moral, de padrões e princípios. Só conforto, bem-estar, e apoio para ajudar na vida. Uma psicoterapia de segunda categoria.
Em Admirável mundo novo, Huxley apresentou uma droga chamada soma, que tirava a dureza da vida. Tipo Prozac. Há muito soma e Prozac nas igrejas. O evangelho é para levantar o ânimo, não para moldar a vida.
O evangelho chama a reordenar a vida. “No passado Deus não levou em conta essa ignorância, mas agora ordena que todos, em todo lugar, se arrependam. Pois estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio do homem que designou. E deu provas disso a todos, ressuscitando-o dentre os mortos” (At 17.3-31). Ele traz conforto e segurança. Mas pede arrependimento e mudança de vida. E a igreja não é um lugar para ter o ego massageado ou o estilo de vida confirmado. É a comunhão dos salvos por Jesus, que se comprometeram com ele e querem viver seus padrões. Não é comida por quilo, onde se pega o que se gosta. Ela se compõe de cristãos postos num corpo para transformar o mundo.
Culto não é programa de auditório. É anúncio do evangelho. E este não é “Façam o que querem que Deus não está nem aí”. E a igreja é a companhia dos salvos engajados com Cristo, não um grupo em busca de entretenimento. Por vezes sobra festa e falta contrição.
Há duas necessidades por reafirmar conversão e santificação. Sem elas, a vida cristã é enganosa.